A energia Kundalini, que costuma ser ilustrada por uma serpente – algo revelador, visto que esse animal representa ao mesmo tempo a sexualidade e a sabedoria –, é a suprema forma de energia ou a essência do energético; protagoniza as relações sexuais tântricas, elevando tudo aquilo que é percebido pelos sentidos a uma experiência muito mais vasta e profunda, que transcende os parceiros e não habita somente o corpo, mas inclui a esfera espiritual, ou seja, um plano superior ou mais elevado. Essa explicação só é válida para a forma de comunicação ocidental, pois no Oriente não há divisão entre os planos material e espiritual, entre corpo e alma.
Doutrinas como a ioga, o tantra, o budismo e o taoísmo, entre outras, concordam em afirmar que a carga psicossexual Kundalini é invisível e incomensurável e que permanece adormecida, enroscada na zona perineal do corpo humano; mas, ao despertar, a serpente desenrola seu corpo e começa a subir, levada pelo fluido da espinha dorsal, atravessando a coluna vertebral, passando por todos os vórtices de concentração energética do corpo, até chegar àquele que está localizado no cérebro, para alimentar esse órgão e reger sua atividade. Ali, sua última meta, a Kundalini possibilitará a união dos princípios masculino e feminino, representados no hinduísmo pelo deus Shiva e pela deusa Shakti, respectivamente, e se dará o êxtase, coincidindo com o orgasmo.
O sexo tântrico é acessível a todas as pessoas quando adaptado a seu estilo de vida e ao ritmo de sua atividade sexual. Ao praticá-lo, ampliam-se as possibilidades eróticas e os casais sentem que crescem internamente, ganhando em equilíbrio e autoestima, além de desfrutar, sem culpa nem remorso, da festa oferecida por sua sensibilidade.
Segundo o conceito do sexo tântrico, existem vórtices energéticos, ou núcleos de concentração de energia, denominados chacras – palavra que em sânscrito significa rodas, círculos ou discos –, distribuídos por todo o corpo humano. Os textos tântricos afirmam que durante o intercâmbio sexual há mobilização e circulação de energia dentro do organismo, e que é possível senti-la e aproveitá-la. Ou seja, é uma corrente que nasce com a excitação sexual e pode ser dirigida e canalizada.
Um aspecto interessante sobre esse conceito, do ponto de vista da sexualidade, é que esses pontos coincidem com o que se conhece como zonas erógenas. Isso equivale a definir a superfície inteira da pele como um território potencialmente erótico, sem que as sensações prazerosas fiquem limitadas somente aos órgãos genitais. De modo que se conhecer fisicamente, explorando as possibilidades pessoais de prazer, estimulando e abrindo esses centros de erotização, ampliará de forma incomensurável o universo do prazer sensual.
O percurso traçado pela Kundalini, segundo o tantrismo, em seus deslocamentos da região inferior até atingir a superior, atravessa e nutre os sete chacras espalhados pelo corpo. Por essa razão, é importante saber onde e como eles estão situados, para aumentar o prazer, quais são as áreas regidas pela energia particular concentrada em cada um deles e, eventualmente, descobrir algumas zonas cujo potencial erótico não é inteiramente conhecido pelos amantes ocidentais.
O primeiro chacra está situado na base da coluna vertebral, à altura do períneo, e sua influência se estende ao reto e à virilha, dando espontaneidade e independência. O segundo fica à altura da pelve, profundamente associado aos genitais, e por isso é o que regula a energia sexual. Acima do umbigo encontra-se o terceiro, cuja característica principal é revitalizar o indivíduo. O quarto chacra coincide com o coração e é o emissor e receptor dos sentimentos e emoções. Em quinto lugar encontra-se o chacra laríngeo, que impulsiona a comunicação, e o sexto, chamado também de terceiro olho, fica entre as sobrancelhas e possibilita a consciência do próprio ser. No topo da cabeça fica o chacra coronário, ou luz suprema, que ao ser percorrido pela energia erótica é capaz de levar ao êxtase.
O chacra situado na testa, ou o terceiro olho, é o ponto de residência de Shiva, uma divindade que representa o princípio masculino. Quando a Kundalini alcança esse ponto energético, libera-o e o conduz até o chacra coronário, onde vive a deusa Shakti, ou princípio feminino, que pertence a uma categoria especial ou superior aos seis restantes. Quando os dois se reúnem ocorre o grande encontro cósmico, e a felicidade que se alcança é de caráter divino. É o êxtase denominado samadhi, ou iluminação, segundo o tantra, produzido porque homem e mulher recuperam sua condição andrógina original. Porém, independentemente dos conceitos dessa doutrina, o samadhi pode ser lido com olhos ocidentais como uma linda metáfora sobre o que se sente ao atingir o clímax: uma fusão intensa entre dois corpos que praticamente se transformam em um só. No Ocidente está difundida a ideia de que o ponto-chave do amor se encontra nos genitais; mas, segundo o tantra, fica no centro do esterno, coincidindo com o chacra cardíaco. Ao estimulá-lo, percebe-se o nascimento de uma corrente de energia impressionante, que parte da coluna vertebral e se estende a todos os pontos de sensibilidade erógena do corpo.
Despertar a energia Kundalini é um objetivo tanto da Kundalini ioga como da prática do sexo tântrico. No primeiro caso, o propósito é que a energia se dirija até o chacra coronário, que coincide com o cérebro, para que corpo e espírito – ou seja, as esferas material e espiritual, normalmente opostas no ser humano – se fundam e se produza, assim, uma expansão da consciência até atingir a experiência mística do êxtase. O tantra, por sua vez, busca despertá-la para que a divindade masculina Shiva se reúna com a deusa Shakti – união que equivale a um gerador de energia – e assim se desfrute de um clímax de proporções tão intensas quanto insuspeitadas.
Para isso, as duas filosofias propõem técnicas para desbloquear os nadis, palavra sânscrita que significa rios, que são os canais pelos quais a Kundalini circulará quando tiver sido despertada, pois a serpente representativa dessa energia permanece adormecida em seu chacra de origem e enrolada em volta dele três vezes e meia. E só poderá despertar por completo quando atravessar três importantes nós que encontrará ao subir.
Despertar a energia Kundalini é um objetivo tanto da Kundalini ioga como da prática do sexo tântrico. O primeiro nó, chamado de Brahma, encontra-se no chacra básico, onde começa o caminho. O segun-do, chamado de Vishnu, no chacra cardíaco, e o tercei-ro, ou nó de Shiva, coincide com o chacra do terceiro olho, que fica na testa. As três correntes de energia se unem formando um nó nos chacras mencionados, e configuram um reino da natureza.
No que concerne à sexualidade, à medida que a consciência adentra o primeiro deles, nasce uma nova percepção do mundo material por meio dos sentidos, chegando-se um alto estado de concentração em todos os estímulos. Ao penetrar o segundo nó, estimulando o chacra umbilical, surge um poder revitalizante que acende a paixão. Quando a Kundalini chega ao terceiro nó, situado à altura do sexto chacra, encontra-se no ponto exato no qual se entrelaçam todos os rios energéticos do corpo, ou nadis, e onde também confluem os três principais, denominados ida, pingala e shushumna, na língua original. Quando este se abre, a respiração se equilibra e coloca as pessoas além do sentido do tempo e do espaço reais.
Cada chacra é associado a uma divindade do hinduísmo e tem uma representação gráfica característica, além de estar relacionado com um animal, uma flor, uma figura geométrica e uma cor que o identificam. Além disso, a cada um corresponde um elemento natural, como fogo, água, ar, etc., uma estação do ano e uma letra do alfabeto sânscrito.
Depois que a Kundalini atravessa o terceiro nó, a serpente já está totalmente desenrolada e ereta; é quando a energia se harmoniza em todos os chacras e a luz do conhecimento se une a ela. Quando isso ocorre, o ser humano sente como se vivesse ao mesmo tempo no passado, presente e futuro, ou estivesse além da noção temporal da realidade em que vive. E, ainda, transcende seu ego e desenvolve uma consciência superior, sendo capaz de sentir um amor universal e um estado de felicidade suprema. O último estágio do desenvolvimento dessa energia é a iluminação.